Sobre ser brasileira, ter 56 anos e tentar ser feliz

Olá! Sim, faz tempo que não escrevo aqui no blog. Desde dezembro, uma coisa atrás da outra, incluindo o assalto ao meu filho, que me afetou profundamente. Isso sem falar na situação do nosso país.

Quem me conhece sabe que eu sou bem humorada. E tenho uma tendência Pollyanesca, quase incurável… Mas ando bem tristinha e desesperançosa. E P*$%# da vida! É por isso que esse post não é sobre viagem.

Há um ano publiquei esse texto, que até hoje recebe comentários. E apesar de na época, estar acompanhando, apreensiva e estarrecida, meu país entrando num caos político, social e econômico, e de ver todas as minhas economias desaparecerem com a desvalorização do Real, eu estava feliz. Estava -fora- do Brasil, em Edimburgo, onde podia sair e andar em segurança, onde os preços não mudavam de um dia para o outro, onde meu filho tinha acesso a saúde pública de qualidade e mesmo com muito menos dinheiro do que inicialmente planejado, havia uma viagem pela frente:  Uma viagem na primavera européia.

Praga 2015

Praga 2015

Em junho/2015, quando cheguei, publiquei esse desabafo, mas ainda não tinha idéia, do quão pior iria ficar. A cada dia, um escândalo maior engole o anterior. Quando voltei para o Brasil, a tradicional depressão pós-viagem, deu lugar ao medo, assistindo meu país desmoronar, nas mãos de gente que só tem um objetivo: continuar no poder (des)governando o Brasil. E não falo deste ou daquele partido. Estão, todos os partidos políticos, grandes e nanicos, envolvidos em conchavos e esquemas. Não se trata de quem é pior, PSDB ou PT. O grande problema é que esse último deu origem a um fanatismo quase religioso e seu líder é sempre a vítima de origem humilde que tirou milhões da miséria. Seu projeto e sua sucessora, no entanto, colocaram o país inteiro de volta. Das grandes empresas às famílias mais humildes, todos perderam.  Somos todos reféns da situação, da falta de perspectiva e do fanatismo que nos colocou uns contra os outros.

PIB - Brasil 2015

PIB – Brasil 2015

Enquanto o PIB (produto interno bruto) cai, a FIB (felicidade interna bruta) despenca.

Insegurança

Mais recentemente, eu senti na pele, como mãe, o horror que vemos pela televisão todos os dias. Meu filho, que passou os últimos 8 anos no Reino Unido, entre outros trabalhos foi bartender, saía do trabalho de madrugada. Nunca aconteceu nada. Estava a menos de 8 meses no Brasil. Foi assaltado, agredido, e como eu disse -Graças a Deus, foram só cinco fraturas. Duas cirurgias, muito tempo e fisioterapia para a recuperação. Mesmo assim, uma sorte danada! Ele está vivo!  E eu havia feito um plano de saúde para ele, mesmo que sua passagem pelo Brasil fosse temporária. Plano que aliás, não sei se vou conseguir pagar para mim no futuro. Ao completar 60 anos, o custo é de mais de R$2500,00 por mês.

Mas tudo que “Eles” querem é continuar no poder. Não importa que o país esteja ruindo, não importa que ninguém consiga pagar mais impostos, não importa que tenha gente perdendo emprego, perdendo a casa, passando fome, sendo roubada, assassinada por causa de um celular, não importa que as pessoas morram na porta dos hospitais, nas ruas e que o país esteja mergulhado na mais profunda crise, andando décadas para trás. Mas só o que vejo, são “Eles” trabalhando para eles procurando brechas na lei, planejando manobras, elaborando liminares, sem no entanto resolverem os infinitos problemas do Brasil.

“Eles” se tratam em hospitais vips, tem segurança particular, meios de transporte seguros e confortáveis e dinheiro para viverem o resto de suas vidas desfrutando de um conforto nababesco. E nós, “coxinhas ou petistas” que não fazemos parte de nenhum esquema bilionário, e não “somos um instituto” e não ganhamos “presentes”, nem temos amigos “encantados” que nos oferecem ajuda, estamos todos na pior.

Dilma - Boing Particular

Dilma – Boing Particular, carro e helicóptero da presidência para prestar solidariedade a  um amigo pessoal

Para o povo, ficam esqueletos e as dívidas de obras inacabadas – o legado da copa – hospitais públicos em decomposição, e nem a sagrada poupança escapou do pacote de maldades. Colocar dinheiro na poupança não adianta mais nada. Saímos perdendo de qualquer jeito.

Ah, e ainda temos a Dengue, a Chicuncunya, e o Zika Vírus que vem aterrorizando famílias e tirando a paz das grávidas, um período tão especial na vida de uma mulher.

Como planejar nossas vidas? Que país consegue estabilidade quando o presidente do senado, da câmara e do Brasil e mais uma penca de políticos são investigados por corrupção e só trabalham para eles mesmos continuarem no lugar?

Viver numa gangorra, tendo que dar impulso com a próprias pernas para subir, enquanto um país obeso, inchado de corrupção te empurra novamente para baixo é extenuante. Já vivi crises antes e estou cansada. Cansada de discursos e frases de efeito, sem efeito algum na vida da gente.

Mas a vida segue e vamos lá. Volto com um post mais alegre, ok? Até!

11 comentários em “Sobre ser brasileira, ter 56 anos e tentar ser feliz

  1. Minha querida, imagino o sofrimento da família com o acontecido.
    Não temos mais segurança e estamos perdendo a esperança, de que um dia, a vida em nosso país melhore.
    Uma parte da minha família está longe do Brasil e graças a Deus estão bem. Apesar da saudade, fico feliz em saber que estão mais seguros e com perspectiva de uma vida melhor.
    Também deixei de escrever no blog… mas vou “levantar e sacudir a poeira”!
    Um abraço carinhoso e vamos dar a volta por cima!

  2. Querida Celina, o que você retratou é nosso fim de mundo. Que pena do seu filho, ser vítima da violência no próprio Pais que com certeza ele ainda amava. Minha solidariedade a vocês e que fiquem com Deus! Bjs. Zenon

  3. Celina,

    Não tens idéia do quanto eu te entendo, do quanto o seu desabafo me soa familiar, o quanto eu respeito a sua pessoa, o seu trabalho, e em que medida me solidarizei com seu susto e seu sofrimento por ocasião do assalto ao seu filho. O Brasil está desanimador por todas as questões que podem ser consideradas apenas retóricas – aquelas tantas sobre as quais conversamos quando nos encontramos, o que aliás PRECISA acontecer – mas também por aquelas que são de ordem moral, cívica, e que nos mostram o quanto falta de estofo de caráter àqueles que, desgraçadamente, “ajudamos” a estar aonde estão, fazendo toda a sorte de desatinos a qual temos sido expostos. Vivemos um câncer social porque vivemos um câncer moral, e muitas vezes o que nos resta é apenas um arremedo de estima.

    Um beijo solidário, carinhoso e saudoso para você.

    Lena

  4. Sempre li suas postagens com imenso prazer,aprendendo com elas a delicia de se planejar com carinho uma viagem e aprendendo com vc o quanto o planejar já é estar a caminho.Esse seu desabafo vem ,infelizmente de encontro ao meu momento ( e acredito ao de todos os brasileiros conscientes ) atual – um profundo sentimento de tristeza ao ver a que ponto chegamos e o pior, ainda estamos indo pois eles ainda estão no poder estragando cada vez mais nosso já tão judiado Brasil.Espero que em uma próxima postagem ( depois do dia 13)nos encontremos mais esperançosas . Abs

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